quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Improviso à brasileira - a armadilha de sempre

Em janeiro de 2011, no editorial da revista ENGENHARIA, órgão oficial do Instituto de Engenharia, sediado em São Paulo e fundado em 16 de outubro de 1916, o Eng. Aluizio de Barros Fagundes, então presidente daquela instituição alertou para os riscos de que continuássemos a improvisar no Brasil. Leiam alguns excertos desse documento.

(...) Mais uma vez demonstra-se que em nosso país nada se analisa e nada se planeja. Confiamos demais no propalado “espírito criativo” e na poderosa “força de improvisação” de nosso povo. (...) nas décadas de 1960, 1970 e metade de 1980, a engenharia se mobilizou, encorpou e brilhou com grandes [obras]. (...) [o País] assistiu inerme – na verdadeira acepção da palavra – à paralisação que perdurou de 1985 a 2009. (...). Os bons tempos na fase de crescimento vieram de um improviso a partir de uma boa idéia, a de Brasília, num comício da então campanha presidencial na pequenina e longínqua Jataí, no ano de 1955. A estagnação veio da imprevidência, mesmo com os avisos da crise econômica internacional de 1985.
Com o novo surto de progresso experimentado em 2010, teremos tudo de novo por fazer  e tudo por fazer de novo. Precisamos, no entanto, estar conscientes que dessa vez não podemos abusar da improvisação e criatividade, sob pena de apenas “incharmos” a força de trabalho. A denominada “globalização”, que poucos compreendem ser um movimento financeiro de capitais – que, em todo o mundo, migraram das mãos dos Estados para as mãos particulares –, exige reflexão, cautela e denodo nas tomadas de decisões que ora se fazem imperativas. Nenhum país mais está isolado e há determinadas interdepedências econômicas que os aproximam em maior ou menor grau, em relações diretas ou indiretas. Os padrões monetários estão em ebulição desarranjada por todo o mundo. Por isso, todo o cuidado na retomada do desenvolvimento será necessário. É preciso planejar. Com técnica e proficiência. Acabou-se o tempo de, à moda brasileira, “empurrarmos” a economia nos moldes futebolísticos de uma torcida gritalhona e animada. O time está exaurido.
É preciso fugir da armadilha de que nosso futuro é a Copa do Mundo de 2014 e ali tudo termina. Não podemos pensar em soluções provisórias ou paliativas para os candentes problemas de infraestrutura, sob pena de perdermos o verdadeiro legado que a Fifa preconiza: planejamento para melhoria da qualidade de vida. Temos que enxergar que os estádios, com a monumentalidade exibicionista, podem ser efêmeros, mas a melhoria do entorno que suscitarem tem tudo para ser permanente e não pode ser esquecida ou procrastinada. (...).

 

Às vezes o improviso dá certo, mas a probabilidade maior é não dar. Lamentavelmente, o improviso “azarado” imperou. Nosso surto de progresso não se ajustou à economia globalizada e nossa arrancada foi apenas uma “bolha”. Pouco se conseguiu na infraestrutura e, ainda, perdemos a Copa de 2014. Com vontade e determinação política podemos reverter esse quadro. PLANEJEMOS!

ABF, 27/09/14

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